Esta tela destaca-se sobremaneira em relaτπo ao resto das mitologias representadas por Rembrandt. A obra estß datada de 1636 e foi considerada a mais relevante da dΘcada dos trinta.
Desde o inφcio nunca existiu uma opiniπo unΓnime sobre o conte·do da tela. A crφtica especulava entre o bφblico e o mitol≤gico. Daφ que ela tenha sido qualificada tambΘm como Raquel Esperando Jac≤, ou VΩnus Esperando Marte.
A hip≤tese mais admitida Θ a que se oferece neste caso, fruto de uma anßlise e uma explicaτπo muito cuidadosa. As d·vidas principais sobre a representaτπo centram-se no cupido maniatado. Panofsky estudou as fontes literßrias empregadas pelo mestre. O te≤rico considerou que aquele personagenzinho simbolizava a castidade nos tempos da Idade MΘdia. Isso entroncaria com o assunto a tratar: a moτa fora encerrada por seu pai, rei de Argos, por causa da sua aventura com Zeus, que a seduziu transformado em chuva de ouro. Este elemento estß sugerido no quadro mediante uma incipiente luz dourada que incide sobre a mulher e seu leito.
AN┴LISE T╔CNICA E ESTIL═STICA
A composiτπo evidencia uma horizontalidade muito marcada. O leito e o corpo deitado da jovem acentuam-na. O foco de tensπo se centra na mπo de Danae. Ela nπo somente possui conotaτ⌡es de tipo simb≤lico, como tambΘm determina o resto de seu espaτo circundante.
O artista sugere profundidade mediante a criaτπo de planos sucessivos. Um personagem aparece atrßs da cortina. Ambos constituem o plano intermedißrio entre o corpo da mulher e o fundo luminoso. A escuridπo do fundo contrasta com a pele da protagonista. Seu ventre inchado nos fala de uma voluptuosidade extraordinariamente naturalista. O claro-escuro modela uma anatomia realτada pela brancura dos lenτ≤is.
A luz tem uma dupla funτπo. Do ponto de vista formal, determina o tratamento dos volumes. A isso se soma um conte·do claramente simb≤lico.
Os ocres que envolvem o leito contrastam com o ele dourado que impregna toda a cena. O vermelho de certos detalhes, como o bracelete, ganha uma forτa maior, graτas ao efeito cromßtico do conjunto. Sua inclusπo na tela acentua a expressividade da representaτπo.
INTERPRETA╟├O
Com esta composiτπo, Rembrandt volta de novo α tradiτπo pict≤rica dos mestres italianos do Renascimento. Ticiano jß havia tratado este assunto mitol≤gico. Na obra do veneziano sim aparece, explicitamente, a chuva de ouro. O pintor do Imperador Carlos I concebe uma Danae monumental, carente da proximidade da qual se faz gala neste caso. Do ponto de vista da composiτπo, a tela mantΘm certas conex⌡es formais com outra obra ticianesca. Trata-se de uma VΩnus reclinada junto de Cupido. De qualquer forma, no quadro do pintor holandΩs desapareceu a ßurea distante e idealizada que rodeia as mitologias entendidas desde uma estΘtica clßssica. Seu autor prefere representar um corpo feminino cheio de humanidade. O naturalismo de sua anatomia entra dentro da mais pura tradiτπo barroca. Dele transcende uma sensaτπo de proximidade. A evidente carga sensual tem como espaτo uma atmosfera φntima e misteriosa, cheia de alus⌡es simb≤licas que dificultaram a leitura do quadro ao longo dos tempos.
